01 maio 2010

O bilhete

Olá- disse ela no habitual tom envergonhado.
Ele apenas sorriu, nada disse, libertando o balcão e saindo do café em seguida.
- Estou farta disto, nunca me fala e quando fala é como se me despacha-se - comentou com amiga.
Ela também nada disse, ganhando rapidamente uma expressão de impotência na sua face.
-Mas será que hoje ninguém fala? - disse irritada.
- Acredita que por vezes não é a falar que a gente se entende - respondeu-lhe enquanto recebia o troco do amável empregado de mesa de avental vermelho.
Naquele café o sol batia de frente, entrando sorrateiro pela longa vidraça.
Nada mais se disse durante o serão.
-Desculpe menina - disse o mesmo empregado que há pouco as servira - o rapaz que saiu pediu para lhe entregar isto.
A sua pele empalideceu, a sua boca perdeu forças de tanta admiração não tendo por isso dito obrigado, limitando-se a acenar com a cabeça.
Abriu o pedaço de papel rasgado de uma folha de um caderno qualquer.

"Não falo, mas sinto.
Espero que entendas o que te quero dizer através do meu silêncio.
N."

-Pois - disse - parece que nem sempre é a falar que a gente se entende...

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