01 julho 2010

O fim

Não vou abrir, já disse.
Por favor, não insistas. Dá meia volta e continua o teu percurso. Percorre todas as casas da minha rua, desde o meu número. Sete, cinco, três, um. Deixa de pisar o meu tapete da entrada, aquele que a minha mãe insistiu que eu comprasse para que não me esquecesse de limpar as galochas vermelhas ao entrar, depois de mais uma tarde de jardinagem, como costumava fazer em sua casa, quando lá morava.
Parece que foi ontem que de lá sai. E desde então tudo piorou. Deixaste de me amar, aos poucos. Deixaste o nosso amor cair e quebrar-se, lentamente. E agora assim estamos, separados.
Insistes. Insistes de tal modo que amanhã mesmo serei obrigada a mudar de campainha por já estar farta de ouvir sempre o mesmo som. Porque não páras? Porque não finges que sai da cidade, e páras?
Não, não me ligues. Não me ligues pois não é solução. Não irei atender. Não posso atender. Não quero ouvir mais juras de amor, não quero que digas mais uma vez que vai tudo voltar ao que era. Não quero que me mintas na cara.

E de repente, o silêncio apoderou-se do número 9 da Rua das Laranjeiras, a campainha teve descanso. Alice sentou-se no cadeirão vermelho que se encontrava junto à lareira. Evitou olhar para os retratos que estavam sobre a mesma, mas mesmo assim foi inevitável. Os olhos ficaram vermelhos, as lágrimas começaram a cair, passando calmamente pelas maças do rosto e caindo delicadamente no chá de camomila que habitualmente bebia.
Só assim estaria pronta para a visita de amanhã. Só assim estaria pronta para mais uma sinfonia irritante de campainhas e telefones. Só assim conseguiria lidar melhor com a perda do melhor sentimento que alguma vez tivera.