01 maio 2010

O velho

-Adeus! - e uma lágrima brilhante como o cristal percorreu o seu rosto, tela onde a idade pintou a sua marca.

Durante horas manteve-se lá sentado, agarrado à sua mão que a cada minuto ficava mais fria. Manteve o seu olhar fixado nela, nos seus olhos doces, agora fechados, na sua boca delicada e na sua pele macia. E naquela cadeira as lembranças surgiram à velocidade da luz, quase embatendo umas nas outras tamanha era a vontade de se afirmarem. Uma em particular fez o homem rir, não por ser importante pois na verdade era quase insignificante. Sorriu sem desviar o olhar. Lembrara-se do dia em que ela lhe tinha dito que adorava colocar a mão sobre o coração pois assim tinha a certeza de que este continuava a bater por alguém: ele.

Sorriu novamente. Olhou para a sua mão uma última vez naquele quarto branco e frio. Segurou nela mais uns instantes e colocou-a sobre o seu coração, dizendo:

Ainda que o teu coração tenha parado, o meu continua a bater por ti.

E assim se afastou em sinal de despedida deixando que o lençol branco tapasse o rosto da sua amada para sempre.

Sem comentários: