23 maio 2010

A Carta

Consigo sentir o cheiro dela a léguas de distância. Nada mais parece existir além dela. Seus olhos, cor da água, translúcidos. Seu cabelo é seda em minhas mãos, seu corpo a perfeita escultura a meus olhos.

23 de Junho de 1953. Triste data esta que anuncio. Perdi seu cheiro, seus olhos, seu cabelo, seu corpo. Perdi toda a sua luz. Perdi os suspiros, os sorrisos, as lágrimas. Os desabafos e preocupações, nunca mais as poderei ouvir pois sua voz agora é uma simples memória.

Sei que não compreenderão. Sei que nunca irão perdoar esta decisão tola mas sábia. Mas ela está tomada, não há volta a dar. Meu testamento, deixo-o na primeira gaveta da velha secretária da sala de chá.
Apenas quero que entendam que o que fiz foi por amor pois vida sem amor não é vida. E assim me entrego à morte. Talvez assim volte a encontrar a felicidade, a seu lado, novamente.

1 comentário:

Daniela. disse...

Escreves de uma forma divinal. :)